9.2.10

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the night is hot and black as ink



Por muito tempo, eu me orgulhei de ter uma perspectiva bem otimista com relação à vida, à morte, ao show (ao amor mais ou menos). Acho que já disse isso, mas tenho a tendência de me cercar de pessoas que, de maneira muito similar a minha, se fodem grandemente na vida mas continuam achando que existem grandes surpresas bacanas esperando no fim do arco-íris.

No fim, adquiri essa espécie de habilidade mística que faz com que muita gente, completos desconhecidos, colegas um tanto alcoolizados ou amigos de longa data considerem minha opinião e desabem todos os augúrios pra ouvir o que eu acho a respeito. Me lembro bem de primeiras conversas que envolveram descrições de vidas amorosas conturbadas com direito a cenas Gossip Girl de cigarros queimados na cara do ofensor e julgamentos wildeanos por pedofilia; outras, envolviam dramas familiares e doações de sofás por piedade com estranhos sem teto. De qualquer forma, por mais esquisito que eu achasse a maneira como as pessoas conseguem abrir os cantos mais recôndidos de seus corações pra, bem, mim, meu mote sempre foi o mesmo, pra gente próxima e gente inexistente: se as coisas estão ruins, elas vão melhorar. Se você tem medo de se machucar, acaba só assistindo a vida de longe.

Tudo que eu já disse pra qualquer um pode muito bem ser resumido nessas duas máximas; sempre acreditei nelas, e, é verdade, acabei construindo uma espécie de couraça pra me defender das decepções. Acabei aceitando as decepções, com uma espada em uma mão, uma maça na outra e o peito aberto pra escorrer todo o sangue que fosse necessário pra me tornar uma pessoa melhor. Sempre portei minhas cicatrizes com muito orgulho, o mesmo orgulho da terra lavada de sangue que me ensinou a dar valor pra um milhão de coisas; sempre me orgulhei, sobretudo, de ter tido todas as oportunidades do mundo pra me tornar amarga e descrente e ter escolhido exatamente o contrário.

O engraçado dessa história toda é que minha Meta Maior sempre foi ser feliz, como se isso fosse uma coisa distante e intangível que eu sabia que merecia, que eu sabia que tinha guardada dentro de mim e que um dia, inevitavelmente, eu ia conseguir sentir de verdade, porque o mundo seria muito injusto se não fosse assim, certo? E eu sempre soube que precisava aceitar os riscos de me machucar pra ser feliz de verdade, e eu sempre aceitei a tristeza muito bem.

O engraçado disso tudo é que, em algum lugar no meio do caminho, esqueci que tinha que aceitar a felicidade, também.

E foi aí que eu percebi que eu não hesitava em assumir infortúnios, mas tinha medo de colocar no papel, visível e concreta, qualquer esperança de coisas boas vindouras. Meus endereços sempre foram escritos a lápis. As datas de coisas boas que eu sabia que podiam, um dia, se tornar coisas dolorosas, também. Todo o meu moleskine é desenhado a lápis e sem cor porque eu tenho medo de gastar as páginas e me arrepender.

...

Acho que toda minha vida foi um grande rascunho com a caneta sempre parando a alguns centímetros do papel.

















Agora é hora de começar a usar tinta.

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